sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Muito gentil

   Sua voz rouca, ou pela raiva ou porque era realmente assim, me deixou completamente arrepiada, antes de vergonha, agora de medo. 

    — Eu ... ouvi uma musica e vim ver ... e a porta estava meio aberta...  e puf, caí.

    — E o que te da o direito de invadir?! 

  Era meu fim, estava perdida, morta, seria enforcada e cortada aos pedaços! 

    — Eu não invadi! Foi um acidente! Não foi minha culpa! 

    — E ficar ouvindo também não foi culpa sua? 

  Ele parecia um pouquinho mais calmo, porém ainda sim estava assustador. 

     — A.. hmm... Mas era tão bonito. 

  Baixei a cabeça automaticamente quando falei isso com medo de ter ficado vermelha ou pior, ter irritado ele. Não sei se bonito para uma musica era um bom elogio. Escutei algum barulho vindo do corredor , torci para não ser o inspetor. 

   — Ótimo, além de me interromper, desconcentrar, ainda vou ter que dar explicações. Você, qual seu nome? 

     — Hyuuga Hinata. 

     — Vai pra dentro daquele armário, agora! 

     — Armário? Porque? Vou pra narnia? 

  Olhei para ele e depois para o armário, calculando se eu conseguiria entrar ali sem me sufocar.

    — Você prefere ter que explicar pro inspetor porque está sozinha em uma sala com um homem, no terceiro andar, matando aula ?

      — To indo pro armário.

 Fui andando rápido até o armário, abrindo a porta e me enfiando dentro. Para minha sorte estava vazio e sem aranhas enormes, tenebrosas e devoradoras de gente. Escutei o barulho de duas pessoas andando pela sala e comecei a respirar lentamente para evitar qualquer ruido. Outra voz começou a falar.

      — O que foi esse barulho, Uchiha? 

  Uchiha ... já tinha escutado esse nome antes, porém não lembrava de onde vinha ou de quem era. O homem repetiu. Olhei pela frestinha do armário, curiosa como sempre. 

      — Uchiha, o que aconteceu? 

      — Apenas me desconcentrei. 

  Ele sempre tinha essas respostas prontas?

     — Não é surpresa... 

     — Hm.

     — Está certo então. Quero você na sala de aula após o recreio. 

  Ele havia ido embora e fechado a porta com mais força do que precisava. Abri a porta do armário e sai respirando fundo. Acabou que não fui pra narnia. 

     — Ufa... 

     — Ufa para quem?! Pra onde pensa que vai agora? Pra aula? 

  Mais uma vez seu rosto estava em fúria. 

     — Não? Não.

  Fiquei olhando para os lados sem querer encara-lo. Como alguém tão bonito podia ser tão mal-humorado? 

     — Sente naquela cadeira - Ele apontou para uma velha cadeira de madeira no cantinho escuro e isolado - e desta vez não faça barulho ou eu realmente vou te entregar. 

     — Ok senhor.

  Fui imediatamente sentar no local indicado enquanto ele retornava ao piano. Nem adiantaria olha meu relógio pois já havia me enganado uma vez. Eu ia realmente jogar ele longe quando chegasse em casa, afinal era tudo culpa daquele maldito! Ele voltou a tocar uma musica, diferente da anterior, essa não tinha aquele sentimento que a outra tinha. Fiquei quietinha observando ele enquanto tamborilava os dedos nas pernas acompanhando , ou tentando, o ritmo da musica.

  Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos. Era incrível como aquele som podia ser tocado por alguém tão...explosivo. A musica parecia entrar pela minha pele, percorrendo cada centímetro do meu corpo até chegar aos meus ouvidos me dando uma sensação tão inexplicável ... 

      — Hyuuga. Hyuuga.

  Ouvia meu nome lá longe, bem distante... uma voz bonita me chamava.

      — HYUUGA!

  Acordei de forma brusca o suficiente a ponto de cair do local onde eu dormia. Abri os olhos rápido, olhando em volta sem saber onde estava.

      — O que? Onde estou? Já estou atrasa pra aula?

      — Primeiro, você está no colégio. Segundo, você vai se atrasar se não levantar agora!

      — Ok... ok.

  Levantei devagar, com os ombros doloridos. Vi um par de olhos pretos me encarando e fiquei um pouquinho corada. Arrumei minha saia e bati de leve nela a fim de tirar a poeira. Olhei novamente para ele e notei que ainda me encarava, menos irritado dessa vez.

      — O que foi?

 Ele me olhou de cima para baixo, me analisando totalmente, sem vergonha nenhuma.

      — Sua blusa ta levantada.

Olhei para baixo notando que realmente levantada e chegava mais ou menos na altura do meu umbigo, mostrando um pouco da minha calcinha branca. Puxei a blusa rapidamente para baixo, arrumando-a e corando novamente. Um milagre tinha acontecido quando olhei ele novamente. Um meio sorriso, bem discreto, havia surgido no cantinho de sua boca.

      — Obrigada.

      — O recreio vai acabar em 10 minutos.

  Ele avisou enquanto conferia no seu celular preto. No mesmo instante andou em direção a porta, abriu-a, e passou. Fui atrás dele, além de não querer perder a aula, não queria ficar naquela sala assustadora. Quase cai novamente quando ele parou parou bruscamente.

     — Cuidado por onde anda.

  Não havia entendido bem, ele parou do nada e ainda me deu bronca?

      — Você para do nada e eu tenho que ter cuidado por onde ando?

      — Eu preciso trancar a porta. Vá para a sala.

  Para evitar qualquer tipo de desentendimento eu o obedeci. Escutei o barulho da porta sendo trancada e continuei meu caminho sem ele. 

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